Vetusto e sólido, este
monumento assiste, todos os dias, desde o ano de 1622 (a sua construção foi
iniciada em 1573), à chegada de todos aqueles que se acercam da Vila de Óbidos.
Mandado construir pela Rainha
Catarina de Áustria (1507-1578), esposa do Rei D. João III (1502-1557),
desdobra-se ao longo de seis quilómetros (destes, 3,5 são subtérreos), desde a
sua nascente na Usseira até à praça de Santa Maria de Óbidos.
O seu projeto seguiu uma
política de modernização de toda a urbanidade da Vila, para, assim, dar início
a uma, até então inexistente, estrutura de provimento de água para a região.
Para levar a cabo o seu intuito,
a monarca negociou, com a Câmara local, os terrenos da Várzea do Mocharro (a
partir de 1573 passou a chamar-se Várzea da Rainha), recebendo-os, em troca da
construção do aqueduto. Contemporaneamente, quem para este olha, pode admirar
as arcadas - “com arcos de volta perfeita, levemente quebrados sobre as vias” -
fortalecidas a intervalos sistemáticos por pegões.
Esse monumento está
classificado como IIP – Imóvel de Interesse Público (Decreto nº 44 675,
DG, 1ª Série, nº258 de 9 de novembro de 1962 / Incluído na Zona Especial de
Proteção do Castelo e Núcleo Urbano da Vila de Óbidos), não se sabendo ao certo
se a autoria do traço foi do arquiteto Afonso Álvares (primeira metade do Séc.
XVI-1580)), ou do mestre pedreiro Gonçalo de Torralva (Século XVI).
Essa acéquia chegou a abastecer
três chafarizes: Mãe-de-Água (demolido), Vila e Bica (além de dois ou três
pequenos bebedouros urbanos).
A riqueza do subsolo da Usseira
é enorme no quesito água, pois encontra-se ali um manancial muito bem
constituído, o mesmo que no século XVI nutriu o aqueduto. Infelizmente, esse
recurso natural tem sido, sucessivamente, alvo de ataques graves no seu estádio
ecológico de constante regeneração, o que pode prejudicar gravemente a boa
saúde da agricultura regional, bem como, alterar, de modo feroz, o habitat do
ser humano, da fauna e da flora locais.
A água é o bem mais precioso
que a Usseira possui, e é nesse contexto que devemos tomar a posição de a
defender, seja na recuperação dos berços existentes, seja no restabelecimento
das fontes e chafarizes de todo o concelho, tornando-os utilizáveis para a comunidade.
Vivemos numa época em que a
crise hídrica assola o planeta, pois as grandes nascentes e fontanelas do globo
terrestre estão muito comprometidas, devido, em grande parte, ao pandemónio
industrial instituído pelo absurdo desmatamento florestal, maciço, em todos os continentes,
e pela selvática atitude consumista que fere diretamente o meio ambiente.
No que trata ao aqueduto, recuperá-lo,
plenamente, para voltar a ter a sua funcionalidade, será, de diversos modos,
uma mais-valia para a população. Um monumento clássico, de desenho simples,
cuja beleza emblemática e poderio arquitetural podem refletir uma essência instintiva,
de um povo forte, nascido e criado na “mui nobre e sempre leal Vila de Óbidos”.
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