No recente dia 19 de maio, em
conhecido e respeitado restaurante, tive o prazer e a alegria de estar em
extremoso convívio com um alargado grupo de amigos, possuidores de ideologias
políticas diversas e adeptos das mais variadas agremiações desportivas, componentes
que poderiam dividir-nos, porém, não foi o caso, pois o que nos une é a mais
alta estima e consideração, amparadas pela real unidade do ser, pelo amor ao
próximo, e pela compreensão do que está contido na origem da fraternidade.
Viver em harmonia e paz é
respeitar o pensamento do outro, não o achincalhando com elucubrações
mentirosas, destiladas em venenos. Quem age deste modo não merece estar numa
roda de amigos, em saudável camaradagem.
Admitir que toda a pessoa é única
é um exercício que deve ser feito constantemente. Compreender que cada um pode
possuir uma religião, uma nacionalidade, e uma ideologia política diferente da
nossa, é um passo enorme em direção à não-violência.
Sem homofobia, sem racismo, sem
machismo/feminismo exacerbados, espontaneamente, alteramos o pensamento,
encaminhando-o para uma dimensão onde a tolerância nos conduzirá a caminhos de
maior reflexão, regiões cerebrais que nos farão compreender, por exemplo, que a
corrupção é o grande problema da Humanidade, e que, acabar com esse mal
absoluto levar-nos-á a suprimir a fome que assola diversos países.
Pensar no outro de um modo
amplo, estendendo-lhe a mão quando necessitar, pode evitar muitas manifestações
irracionais.
A maioria dos seres humanos
ainda não consegue compreender o significado de liberdade, de justiça, de
harmonia, de fraternidade, de igualdade e todos os discursos distorcidos que
pronunciam visam apenas o lucro fácil, a posição política e a soberba social.
Nada tenho contra os que assim pensam, mas como deixam de existir pontos de
debate, quando a matéria se sobrepõe ao espírito, as conversas diluem-se e,
certamente, a amizade se esvanece.
Alphonse de Lamartine (1790-1869), em pequena,
porém sábia, reflexão, disse-nos que “O egoísmo e o ódio têm uma só pátria. A
fraternidade não a tem”. Não pode ter, pois deve ser ampla e irrestrita, planetária
– e, um dia, quem sabe, (multi)universal.
A civilização do amor deve sobrepor-se à do
ódio, ponto inicial para a edificação de uma sociedade melhor.
“Desejo ardentemente que, neste
tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana,
possamos fazer renascer, entre todos, um anseio mundial de fraternidade”
(“Fratelli Tutti”. Papa Francisco).
“Todos Irmãos”. Com esta
enunciação o Papa evoca São Francisco de Assis (1181 ou 1182-1226), sugerindo
que cada um de nós siga o seu caminho, colocando um pouco de sabor a Evangelho
na sua vida. Sábias palavras, inspiradas, certamente, pela real unidade do ser,
pelo amor ao próximo, e pela compreensão do que está contido na origem da
fraternidade.
Francisco poderia estar
connosco naquele jantar. Se estivesse, com certeza, pedir-lhe-ia para explanar
acerca de “Quem é o meu próximo?”, para reavivar outros valores que estão
esquecidos por todos nós. Préstimos de tal importância que podem - com a força
anímica que possuem - ajudar na reconstrução do Templo de Salomão que há dentro
de cada um, sem sentimentos vagos e sem ideais abstratos.
Essa reedificação, seguindo o mestre de construção Hiram Abiff, influenciará a nossa alma a investir numa conduta virtuosa, fraterna e ecuménica.
Comentários
Enviar um comentário