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O novo Parque de Santo Onofre

 


Em 2009, enquanto candidato à Câmara, apresentei uma proposta de criação de um parque na Serra do Bouro, num terreno que atualmente ainda se mantém virgem e em condições de ser preservado, sendo uma mais-valia ecológica para toda a região que o envolve.

Nesse mesmo ano, depois de inúmeras reuniões acerca de uma acentuada preocupação - minha e dos que me acompanhavam politicamente – com o avanço desmedido das construções sem planeamento adequado, foi elencada a possibilidade de apresentar-se outra proposta, desta vez para uma extensa área existente em Santo Onofre.

Doze anos depois, neste 2021, sou confrontado com o surgimento de um novo parque nas Caldas da Rainha. Decisão que aplaudo, pois, quem me conhece sabe que sou a favor de um aumento considerável da mancha verde neste concelho (e em qualquer parte do Globo terrestre), não apenas para garantia da qualidade de vida dos habitantes em geral, mas também para um melhor ordenamento do território.

O local escolhido parece-me adequado, além de permitir que os moradores, daquela fatia da freguesia, possam usufruir de um espaço de descontração, sem serem obrigados a deslocarem-se ao Parque D. Carlos I, ou à Mata Rainha D. Leonor, para o fazer.

A construção da ciclovia proposta para o mesmo local, e com extensão em duas frentes possíveis, trará, certamente, outra possibilidade de “arejamento mental” para todos os que por ali quiserem passar alguns bons momentos.

Convém que se saibam estruturar os canteiros, principalmente com castas que propiciem uma ampla purificação do ar respirável - ainda mais por tratar-se de uma região em franco crescimento, e já muito marcada por inúmeros níveis de poluição – assim, certamente, essa área verde será um importante elemento de coesão social, seguindo os moldes do conceito de parque urbano, enquanto movimento higienista, tão em voga no século XIX, pelo menos nos Estados Unidos da América e em alguns países europeus.

Esse movimento surge em plena Revolução Industrial (1760-1820/1840), quando as grandes cidades passam a oferecer um baixo nível de qualidade de vida, com excessiva insalubridade, levando as suas populações a altíssimos níveis de doenças físicas e psicológicas. Devido a isso, foram tomadas diversas medidas, entre elas a da criação de consideráveis manchas verdes urbanas.

Destas destaco: O Passeio Público do Rio de Janeiro, criado em 1873, elaborado pelo arquiteto e escultor Valentim da Fonseca e Silva (1745-1813); O Birkenhead Park, no centro de Birkenhead, Merseyside, Inglaterra, projetado pelo arquiteto, engenheiro, membro do Parlamento inglês e jardineiro, Joseph Paxton (1803-1865), e inaugurado no dia 5 de abril de 1847; O Bois de Boulogne, em Paris, mandado construir por Napoleão III (Charles-Louis Napoléon Bonaparte, 1808-1873) em 1852; O Central Park, no distrito de Manhattan, Nova Iorque, inaugurado em 1857, com projeto do arquiteto paisagista, jornalista e botânico Frederick Law Olmsted (1822-1903); O Parque D. Carlos I, com a estrutura que conhecemos atualmente, foi aberto ao público no ano de 1892, com projeto do engenheiro e arquiteto, nascido no Rio de Janeiro, Rodrigo Maria Berquó (1839-1896).

Refiro, a título de curiosidade, o avanço dos povos orientais nos quesitos ecologia/ambiente muito antes da Revolução Industrial, e o faço citando o belíssimo Património Mundial da Humanidade existente em Suzhou, Jiangsu, China, o “Master os the Nets Garden” (Mestre do Jardim das Redes, ou Salão dos Dez Mil Volumes) construído no ano de 1.140 por Shi Zhengzhi, à época vice-ministro do Serviço Público do Governo da Dinastia Song do Sul, um local de real grandeza e beleza, que em muito favorece o globo terrestre.

Caldas da Rainha possui uma área verde urbana interessante - ainda distante de Shenzhen, China (45%), Viena, Áustria (45,4%), Sydney, Austrália (46%), Singapura, República de Singapura (47%) e Moscou, Rússia (54%) – mas ainda há muito a fazer para a melhorar. O Parque de Santo Onofre é uma excelente colaboração. Veremos como estará daqui a vinte anos.

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