As praças da fruta e do peixe,
em Caldas da Rainha, estão em franca decadência. A maioria dos vendedores
acredita, inclusive, que com a abertura da nova superfície comercial, no centro
da cidade, será muito difícil continuarem a trabalhar.
Enquanto, em inúmeros países,
os investimentos em praças como aquelas prosseguem a aumentar, no concelho
caldense ocorre exatamente o contrário. Se estudarmos determinadas cidades que
possuem esse tipo de mercados, percebemos a preocupação política em
distanciá-los das grandes superfícies, evitando, assim, constrangimentos
comerciais.
Outro problema enfrentado é o
do desmonte das bancas na praça da fruta. Um espaço que deveria ficar
disponível para a colocação de esplanadas e para o usufruto dos transeuntes em
geral, na maioria dos dias só está desimpedido totalmente após as 16 horas.
O edifício da praça do peixe,
depois do horário de trabalho, é encerrado, não sendo utilizado para mais nada.
Um desperdício.
Essas praças caldenses passarão
pelo mesmo processo que atingiu as Termas; o Parque D. Carlos I; a Mata Rainha
D. Leonor; e a riqueza arquitetural do centro histórico: O do abandono lento, porém,
doloroso para quem compreende a importância de todo o património existente.
Politicamente o que temos é a
banal promessa eleitoreira do “vamos fazer”, depois surgem as desculpas
esfarrapadas do tipo “não temos verba para nada, pois a gestão anterior foi
ruinosa”. A União Europeia possui programas de apoio (bem como o próprio
Governo) para a recuperação e o investimento nos mais diversos setores
concelhios, inclusive os acabados de enumerar, mas, isso, o eleitor não sabe
(ou não quer saber). A ignorância popular é uma bênção para a classe política.
Mirem-se em Elvas, em Aveiro, e
no Porto, por exemplo, cuja recuperação e reabilitação urbana do centro
histórico vem dando uma nova vida àqueles concelhos. O investimento na
preservação do património material e imaterial trouxe mais qualidade de vida
aos moradores e transformou-se na principal mais-valia do turismo local. Nas
Caldas da Rainha o pensamento é outro, pois são muitos os interesses pessoais
instalados (é o que se ouve em conversas de café).
O que de facto ocorre é que a
cada dia que passa há mais bens degradados, mais insalubridade, mais ruína, maior
asfixia do comércio local, menos turismo, etc.
O centro histórico do concelho
caldense não vai mudar. Nada vai mudar. Os diagnósticos são os piores
possíveis. Mas, como o povo quer festa e cerveja, os índices de aceitação
política estarão em alta no verão. Propaganda paga nos meios de comunicação,
festarolas e álcool, não representam mudança, mas alegram a alma. Compreendo.
Os símbolos identitários de
Caldas da Rainha estão ameaçados e passam por um abandono inaceitável (vejam o
desprezo votado à estátua da Rainha D. Leonor, e demais monumentos do
concelho).
Se permitimos abusos (autorizar
a instalação de uma grande superfície, numa “esquina” do centro histórico, é um
deles) legamos ao abandono o comércio local, e os trabalhadores das praças do
peixe e da fruta.
Um representante da autarquia,
brevemente, deverá apregoar pela comunicação social, que não é bem assim, que tudo
pode ser uma questão de opinião e que, na dele, tudo será diferente.
Se esse anúncio acontecer, Samuel
Langhome Clemens (Mark Twain, 1835-1910) entra aqui como uma luva: “Em religião
e política as crenças e convicções das pessoas são, na maioria das vezes,
adquiridas de segunda-mão, e sem examinação de autoridades, as quais elas
mesmas não examinaram a questão a fundo, mas as adquiriram também de
segunda-mão de outros não examinadores, cujas opiniões sobre elas não valem o
peido de um peixe”.
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