Não me recordo de nenhum
Governo que alguma vez tenha, realmente, sido justo com os professores. Os
ordenados líquidos são muito abaixo do merecido, a estabilidade no emprego é
duvidosa, a progressão na carreira não é decente e honesta, o exagero na carga
tributária, a precariedade, a falta de incentivos, o excesso de carga horária,
etc. Além disso, há um número absurdamente grande de docentes por colocar (e
dezenas de alunos sem aulas desde o início do ano letivo).
Portugal passa, mais uma vez,
por justas reivindicações, por parte dos professores (e de todos os
profissionais de educação) do ensino não superior.
Cinco pontos estão na mesa de
negociação com o Governo: 1) um aumento de salário, que possibilite minimizar –
realmente – o agravamento da inflação; 2) uma correta avaliação, e progressão
na carreira, sem quotas, de estrutura meritocrática, sem a sanha desumana de
poupança ditada pelas Finanças; 3) o retorno à administração democrática das
escolas; 4) o fim da municipalização na angariação de professores; 5) a
ampliação da Caixa Geral de Aposentações a todos os lentes.
Acerca do ponto 3, é deveras
preocupante o risco que os professores correm com a municipalização, pois, será
inevitável o surgimento de compadrios e de amiguismos por parte dos vereadores
da Educação. Vem-me à mente um nome, de uma Câmara Municipal do Oeste que, com
certeza absoluta, irá beneficiar “os seus compadres e comadres”. Uma senhora,
alçada ao tal pelouro graças a muito nepotismo e clientelismo, repletos de
interesses escusos, o que é muito grave para a democracia.
Temos de lutar por uma escola
pública de muita qualidade, inclusiva, plural e essa contenda não deve ser
apenas dos professores e demais profissionais de educação. Toda a sociedade
deve estar envolvida, para conseguirmos aproximar-nos de países como a
Finlândia, cuja escola tem início aos 7 anos de idade, com aulas de 45 minutos,
com 15 de intervalo. A semana é dividida de modo equilibrado, tendo de segunda
a quinta-feira uma carga de 8 horas, já na sexta, de apenas 4. A gratuidade do
ensino é total (incluindo a alimentação) e as crianças não necessitam de
carregar uma mochila com “toneladas” de peso, pois recebem um tablet que contém os programas
necessários para o estudo, em sala de aula e em casa.
O historiador, ficcionista e
jornalista Henry Brooks Adams (1838-1918) no seu excelente “A Educação por
Henry Adams”, infelizmente nunca editado em Portugal, diz-nos que “Um professor
sempre afeta a eternidade. Ele nunca saberá onde sua influência termina”. Esse
pensamento é exato e atemporal e ajuda-nos a perceber que, em Portugal, a
Educação vem sendo tratada como coisa de somenos, basta observar a qualidade da
maioria dos políticos atuais, bem como todo o palavreado tosco que se espalha
pelas redes sociais e por muitos veículos de informação.
Já Platão (por volta de 428/427
a. C. – por volta de 348/347 a. C.), discípulo de Sócrates (470 a. C. – 399 a.
C.) e professor de Aristóteles (384 a. C. – 322 a. C.), foi o fundador da
primeira instituição de ensino superior do mundo ocidental e, ali, entregou-se
à enunciação de conjeturas preparadas para a formação de um Estado íntegro,
adequado, constituído por cidadãos honrados. Conforme o próprio, para capacitar
integralmente o ser humano, seria importante investir maciçamente na Educação,
na Política e na Ética. Em Portugal, a primeira está uma lástima, a segunda uma
miséria e a última simplesmente não existe.
Platão, assim como outros
pensadores, considerava a Educação a mais notável das Ciências, concedendo ao
modelo perfeito educacional o atributo de ventura máxima da vida, resultando,
assim, numa sociedade exemplar.
Qual a aspiração da Educação? O
desenvolvimento da retidão no ser humano! Logo, devemos tudo aos professores,
pois é exatamente isso que cada docente vem tentando cultivar na alma humana.
Para todos os profissionais da
Educação: a minha solidariedade.
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