Matthew entra na estação do Rossio, na mão direita o bilhete para Caldas da Rainha, na esquerda o volume “Notas de Viagem – Paris e a Exposição Universal (1878-1879)”, de Ramalho Ortigão. O seu intuito é, somente, o de rever a Vila, que é afamada graças às Termas e, quem sabe, aproveitar um pouco daquelas águas para debelar alguns incómodos respiratórios, reumáticos e músculoesqueléticos. O enredo do livro levara o seu pensamento a desejar a França, contudo, os seus parcos recursos não o autorizavam a tanto. Quando ouviu o silvo da máquina, apressou-se a subir os pequenos degraus da carruagem e a acomodar-se confortavelmente. Quinze minutos depois percebeu que não conseguiria esquadrinhar o relato de Ramalho, a paisagem não o permitiria. Completamente envolvido pelas cores deixou-se entreter, imaginando como poderia fazer bem, aos seus pulmões, caminhar por aqueles campos. A brochura foi parar à algibeira. Os olhos passaram a perscrutar o entorno, completamente extasiados. ...
Ator, encenador, professor de Arte Dramática, escritor e jornalista.