Desde 1968, com o surgimento da tese de doutoramento: “Les monastères du diocèse de Porto de l'an mille à 1200”, até este 2023, a historiografia portuguesa contou com um investigador que abriu inúmeros caminhos para importantes descobertas acerca da História Medieval, ajudando a clarificar - para minha imensa satisfação - incontáveis itinerários de exploração, inclusive sobre a Vila de Óbidos, assim como em relação a outros concelhos régios medievais da região Oeste.
Como o meu querido leitor sabe,
a crónica existente, relativa a essa citada Vila, é devastadoramente bela,
contribuindo para realçar a relevância de Portugal no contexto europeu e
afirmando a própria personalidade das gentes do lugar. Isso só é possível
graças ao trabalho árduo de inúmeros estudiosos, entre eles, um dos maiores,
José João da Conceição Gonçalves Mattoso (1933-2023).
Ainda imberbe - e influenciado
pelo tio-avô D. José Alves Mattoso (1860-1952), Bispo da Guarda - esse erudito
ingressou na vida religiosa, logo após a conclusão dos estudos liceais no Liceu
Nacional de Leiria, na sequência, foi frade na Ordem de São Bento, residindo na
Abadia de Singeverga (Santo Tirso), mudou-se para Louvain na Bélgica, passando
a residir (já monge) na Abadia do Mont César, onde utilizou o cognome Frei José
de Santa Escolástica Mattoso e licenciou-se em História na Faculdade de Letras
da Universidade Católica daquela cidade, instituição onde fez também o
doutoramento em História Medieval.
Em 1970, na Capital portuguesa
e tendo abdicado da vida religiosa, tornou-se investigador no Centro de Estudos
Históricos, do Instituto de Alta Cultura, anexo à Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa, professor auxiliar na mesma Universidade e,
posteriormente, professor catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova. Teve, igualmente, uma notável passagem por
Timor-Leste, onde lecionou no Seminário Maior de Dili.
Da obra literária deste
importante nome podemos destacar infindos títulos, além do citado no primeiro
parágrafo: “As Famílias Condais Portucalenses – Séculos X e XI”, “A nobreza
medieval portuguesa: a família e o poder”, “Religião e cultura na Idade Média
portuguesa”, “Portugal medieval”, “Identificação de um país. Ensaio sobre as
origens de Portugal (1096-1325)”, “Fragmentos de uma composição medieval”,
“Ricos-Homens, infanções e cavaleiros”, “O reino dos mortos na Idade Média”,
“D. Afonso Henriques”, “A dignidade Konis Santana e a Resistência Timorense”,
etc.
A sua competência profissional levou-o
a dirigir diversas coleções proeminentes, entre elas: “História de Portugal”,
“Património de origem portuguesa no mundo”, “História da vida privada em
Portugal”, “Levantar o Céu – Os Labirintos da Sabedoria”, etc.
A sua acentuada preocupação com
a preservação de documentos históricos e com a arquivística de um modo geral,
encaminhou-o tal-qualmente à presidência do Instituto Português de Arquivos e
depois à direção do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Sendo equitativamente o
responsável pelo restabelecimento do Arquivo Nacional e do Arquivo da
Resistência, ambos em Timor-Leste.
Num resumo, José Mattoso, foi
um contemplativo, um franciscano, um intelectual que, em boa hora, enveredou
pelo campo da investigação histórica. Sem o seu contributo, com certeza, a
inquirição acerca da Idade Média, em
regiões como a Oestina, seria muito inferior, direi mesmo, insípida. Este pensamento,
de sua autoria, reflete toda a intensidade e amor pela profissão que escolheu: “A história é um exercício de espiritualidade, de ascese, de busca
no seu objeto histórico de uma verdade intangível é e ao mesmo tempo um
exercício de compreensão do outro.”
Que a sua obra literária permaneça, por muitos séculos, como um
sol, a iluminar caminhos.
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