Apesar da autopromoção
constante, nos meios de comunicação - por parte do executivo da Câmara
Municipal - Caldas da Rainha continua a ser uma singela localidade perto de
Óbidos, com pouca atratividade cultural e nenhuma graça estética.
O concelho não possui um rosto,
uma marca que o defina. Parece, inclusive, que os autarcas não conseguem
decidir-se sobre qual o caminho a seguir nesse quesito. Caldas da Rainha é uma
cidade com que fisionomia? Qual o seu selo distintivo? O que pode atrair turistas?
O que a pode tornar apetecível para grandes investimentos?
Uma das ações urgentes a
realizar é a do resgate da sua história e da sua identidade, todavia, o pelouro
indicado para isso, o da Cultura, é apenas um cabide de emprego e uma vitrina
de pavoneamento. Não existe uma estratégia, por parte desse organismo, para
evidenciar a crónica caldense, os seus feitos, os seus heróis, as suas
instituições, etc.
Não há, igualmente, um programa
de revitalização urbana, que tenha como objetivo a recuperação e a preservação
de todo o centro histórico, efetuando uma bem elaborada prospeção de
propriedades e estudos de incentivo para a reabilitação do património degradado
e/ou devoluto.
O desperdício do dinheiro
público é outro dos problemas recorrentes nas Caldas da Rainha, um dos exemplos
mais recentes é o do gasto com os novos bancos da praça da fruta (Praça da
República). Considero abusivo o investimento efetuado (11.2 mil Euros), quando
o concelho possui um organismo (Escola Superior de Artes e Design de Caldas da
Rainha, ESAD.CR) que poderia, com valores muito inferiores, criar um modelo
atrativo. Afinal, o burgo é ou não uma cidade criativa?
Contratar o escritório do
arquiteto Álvaro Siza Vieira (1933-), para elaborar bancos de jardim (neste
caso, para uma praça) cheira-me a snobismo bacoco, que deve ter saído da
“cabecinha pensadora e pouco esclarecida” de alguém que dorme sentado num certo
pelouro.
Já que esse arquiteto foi para
aqui chamado e que a Câmara das Caldas da Rainha é mãos-largas no quesito “ajustes
diretos”, fica aqui a dica: contratem-no para executar o traçado do futuro
Arquivo Histórico Municipal. Antes que a documentação rara e importante do
concelho seja comida por insetos bibliófagos, por estar acondicionada como se
fosse papel velho.
Um antigo ditado medieval
alemão diz-nos que “o ar da cidade liberta”, principalmente se tivéssemos
diante de nós uma cidade moderna, com respeito total pela sua história, pela
sua memória, e com vitalidade social, política e económica. Nas Caldas da Rainha
não há nada disso. Para piorar, as infraestruturas são simplórias e maltratadas
(basta ver o que o executivo camarário faz com o Parque D. Carlos I), o
concelho não possui um plano paisagístico, o investimento em energia
sustentável é inexistente, etc.
O executivo da Câmara Municipal
tem a seu favor o facto de que o caldense tem memória muito curta, um reduzido
conhecimento da história da sua terra (e/ou da sua gesta familiar) e confunde
tradição popular e vivência comunitária com festarolas e bimbalhadas (exatamente
a têmpera da vereação da – pouca – Cultura).
Ao concelho caldense já não é
somente o rosto que lhe falta, Caldas da Rainha é uma terra sem alma. Os
políticos transformaram-na numa cidade-dormitório. Não há motivo para sorrir.
Há que lastimar. O burgo é apenas um aglomerado urbano, um subúrbio, fincado
nos arredores de uma região próspera, que respeita a sua história, a sua
memória, e que possui um rosto, uma fisionomia muito clara e profusamente
reconhecida na Europa.
Caldas da Rainha é uma cidade
genérica. Existe um acúmulo de impressões negativas, derivadas de um pensamento
pobre, vinculado a uma classe política vazia, sem conhecimentos e sem
sensibilidade. O precário é o todo. O todo é o nada.
Comentários
Enviar um comentário