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Igreja de São Tiago




Localizada dentro das Muralhas da Vila de Óbidos, na Cerca Velha, esta igreja foi construída no ano de 1186, por expressa ordem do Rei D. Sancho I (1154-1211). É de estilo Barroco e Neoclássico, tendo, na sua origem, três naves, com o pórtico principal orientado a Oeste. A sua edificação foi imposta por aquele monarca, para que a família real tivesse, aquando da sua estadia na região, um local para as suas orações.

Com o passar das centúrias, foi tendo o privilégio de receber inúmeras e riquíssimas obras de arte. Neste ponto podemos destacar a “Galeria da Rainha”, uma escultura de talha em estilo gótico, escola que floresceu na Idade Média, entre os séculos XII e XVI, sendo originária da cultura dos Godos, povos que eram tidos como bárbaros e alegados culpados pelo desaparecimento do Império Romano. Em Portugal, foi somente por volta do ano de 1250, século XIII, portanto, que esse estilo teve início.

Uma das peças artísticas de maior valor, no interior da Igreja, era a pintura, em tábua maneirista, integrante do retábulo do altar-mor – representando um dos doze Apóstolos de Jesus Cristo, São Thiago, o Maior (?-44) – cuja conceção é da segunda metade do século XVI e supõe-se que a sua autoria seja de Luís de Morales (El Divino, 1510?-1586). Atualmente, uma fração desta preciosidade encontra-se no Museu Municipal de Óbidos.

A Igreja de São Tiago foi parcialmente danificada durante o abalo sísmico de 1531, sendo, totalmente destruída aquando do terramoto de 1 de novembro de 1755, o que, infelizmente, deixa-nos sem uma visão acerca do semblante original do projeto. Conhecendo a arquitetura do período Barroco, ouso afirmar que o edifício poderia representar uma de duas disposições: Uma organização longitudinal que assentia receber a maior quantidade de fiéis, ou uma planta em cruz latina, com profusos absidíolos (sendo uma abside central e um enorme agregado de absides menores), caracterizando um regresso aos princípios do Concílio de Trento (1545-1563).

O Rei D. José I (1714-1777) mandou, no dia imediato à tragédia, que se iniciassem as obras de reconstrução de todas as vilas e cidades afetadas. Óbidos encetou, então, os trabalhos para a recuperação de inúmeros edifícios, o que não ocorreu com a Igreja de São Tiago, pois esta, como foi totalmente destruída, teve de ser reconstruída desde os alicerces. O traçado original foi completamente abandonado (era datado de 1186), sendo, então, elaborado um projeto “moderno”, com obras iniciadas em 1765, a cargo dos mestres António Néri, Leonardo da Silva e José Teixeira.     

Concluída no ano de 1772, viu, inclusive, ali instalado um órgão, oriundo da Igreja de Santa Isabel (Lisboa), disposto numa renovada caixa.

Do novo edifício, destacam-se algumas modificações, entre elas: A fachada aprumada com a rua Direita e o topo orientado a norte. É de referir que esse cataclismo afetou largamente a Vila, causando grandes prejuízos, também, a uma grande extensão da muralha, e desfigurado inúmeras conformações do delineamento e do casco árabe e medieval da Vila.

Aquando da construção da “nova” Igreja, existia uma preocupação com o “ser anti-Barroco ou anti-Rococó”, pois vivia-se, em pleno século XVIII, um avanço no que toca à arquitetura Neoclássica, porém, na Igreja de São Tiago, parece que não se deu muita razão aos desígnios daquela escola (racionalismo Iluminista, e entusiasmo pela Civilização Clássica), pois o edifício não foi brindado com uma cúpula, pórticos colunados ou frontões triangulares, mas sim com uma planta longitudinal, uma só nave, uma capela-mor, torre sineira, coro, e dependências na ala esquerda. Durante a investigação, não obtive informações acerca das sepulturas numeradas que existiram no subsolo do pavimento da nave, ou a respeito do túmulo – ricamente lavrado em estilo gótico, datado de 1492 – de D. João de Noronha, o Velho (1410-?), conde de Gijon e alcaide de Óbidos.

Entre os anos de 1970 e 1980, esse edifício, foi um importante polo de culto ao “Caminho de Santiago”. No ano de 1989, já em ligeiro declínio, foi utilizada como auditório municipal. Em 2013, sofre a sua maior modificação, sendo transformada em livraria.

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