A região Oeste resfolega ao
sol. Traz à memória, e à alma, uma satisfação emocional idêntica àquela que
senti no Brasil, ou em África, em momentos pré-pandémicos - e que, quando esta
tormenta for história do passado, voltarei a sentir, pois assim rezam os
afazeres profissionais.
Quem já esteve no Brasil, ou
num país africano, aquando da chegada desta estação encantatória - que permite
aos olhos o deslumbre das cores, e ao olfato a satisfação dos aromas - sabe
exatamente o que quero dizer. A alma renova-se e o corpo deixa de ter aquele ar
bafiento que o inverno atira por sobre nós.
Alguns ficam nostálgicos,
relembrando as brincadeiras pueris e as correrias em relva verde entrecortada
por pequenas margaridas, em companhia dos amigos de uma infância despreocupada
e febricitante.
Outros recordam antigos
passeios, em confraria com os parentes do coração, aqueles cuja fotografia
estamos sempre a admirar e a pedir a um deus desconhecido que os proteja e
ampare.
Infelizmente há aqui um detalhe
que estamos a esquecer: Hoje, na região Oeste, não temos aqueles jardins e
parques que deslumbraram os nossos sentidos, repletos de prímulas, tulipas,
margaridas-do-monte, viburnos, marmeleiros-do-japão, narcisos, camélias, pilriteiros,
begónias, campainhas, lírios, madressilvas, acácias, amores-perfeitos, e tantos
outros espécimes. O que se vê é a sanha avassaladora do derrube de árvores e a
troca de canteiros floridos por áreas cobertas por borracha sintética
(prejudicando o solo e a saúde da população).
Antigamente, quando os nossos
olhos recebiam o impacto das cores maravilhosas que as flores, num ato de
elevada bondade, nos ofereciam, o nosso dia ficava extremamente belo, e
tínhamos a sensação de que tudo o que fizéssemos seria pontilhado por uma ajuda
divina. Literalmente: O que os olhos viam, a alma sentia.
Eram momentos em que não se
notava, como hoje ocorre, o desaparecimento maciço de populações de insetos.
Seres que trazem em si a mágica essência de polinizar.
Existe uma visível perda de
ecossistemas, muita poluição, e, ainda, um uso excessivo de agrotóxicos em
zonas agrícolas. A extinção de grandes grupos de insetos possui um efeito
dramático no meio ambiente e, por consequência, em todas as pessoas que vivem
nessas regiões.
Esse meio ambiente, atualmente,
carece de equilíbrio. Se eliminarmos o alimento que os insetos polinizadores
precisam para a sua sobrevivência estaremos a trabalhar para a não-preservação
da vida no Planeta.
Se não temos espampanantes e
coloridos jardins e parques - porque não cuidamos do plantio das espécies -
também não teremos animais polinizadores (aproximadamente 90% de todas as
castas de plantas (com flores) necessita deles para a sua perpetuidade). Não
tendo esses trabalhadores incansáveis, deixamos de ter bom oxigénio, os
concelhos ficam cinzentos, as alterações climáticas passam a ser constantes, e
as pragas agrícolas avançam proporcionalmente sobre as plantações.
Quanto drama. Não é mesmo? E
ainda pode piorar. Algum dos meus queridos leitores consegue lembrar-se de ver
o seu concelho ser invadido por centenas de bicos-de-lacre? Aquela pequena ave (com
um belo bico vermelho-vivo, e com uma diminuta mascarilha encarnada estendida
por trás dos olhos) que foi introduzida em Portugal (exatamente na lagoa de
Óbidos) no ano de 1968, e que se expandiu rapidamente por todo o país? Não? Já
imaginava. Deixaram de ser os apologistas da primavera devido à escassez de boa
alimentação e ao excesso de químicos agrícolas.
Que saudades, da primavera
repleta de flores, insetos e pássaros, dos banhos nos rios, das arriscadas
subidas nas árvores, dos inúmeros momentos apinhados de vivências sensoriais e
dinâmicas. Saudades daquelas primaveras de encher os olhos, a alma e o coração.
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