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O menosprezo à natureza

 


Existe em Portugal, especificamente na região Oeste, independente da cor política, uma sanha avassaladora por parte das Câmaras Municipais, e respetivas Juntas de Freguesia, por “exterminar o verde” de diversos pontos de cada concelho.

Anunciam que a intensão é a de reduzir a despesa no trato de cada área arborizada, mas também pode ser por outros motivos, entre esses o de vender madeira, comércio lucrativo, que pode não entrar nas contas autárquicas (o que me faz recordar um determinado ex-presidente de Junta, de um concelho oestino, que vendia areia da praia para diversos construtores. Esse dinheiro, açambarcado pelo próprio, não entrava, obviamente, na conta bancária da estrutura que geria. Um belo saco azul).

A necessidade de manter, tratar e expandir, uma área verde, é unicamente a de oferecer às localidades uma grande capacidade de melhorar a saúde de cada cidadão. E não me refiro apenas a parques e matas, aponto, também, as árvores nos passeios, e os canteiros dentro das cidades, como responsáveis pela supremacia do ar respirável.

Existem, no nosso belo planeta, diversos, e magníficos, exemplos (em percentagem de área verde) de proteção ao meio ambiente, originando uma qualidade de vida excecional a quem ali reside: Cambridge (25,3%), Montreal (25,5%), Vancouver Sidney (25,9%), Oslo (28,8%), Singapura (29,3%), Rio de Janeiro (72,2%), Belo Horizonte (83%), Santos (87,3%), Goiânia (89,5%), estas quatro últimas situadas no Brasil.

Arborizar um concelho não significa efetuar um indiscriminado plantio de árvores. É necessário criar um plano, respeitando diversos aspetos, entre eles o da escolha do local mediante a compatibilidade com a espécie pretendida.

Se o plantio for num passeio, o tronco deve ser robusto, resistente, para que não exista, futuramente, um acidente, como a sua queda, devido a alguma intempérie; A espécie deve ter raízes profundas, para que não danifique o próprio passeio; Deve ser nativa, ou facilmente adaptável à região, para evitar o avanço de pragas e doenças; De crescimento rápido, para sobreviver com mais facilidade às mudanças de tempo e às intempéries; A sua copa deve possuir formato e tamanho compatíveis com a via, para ser de fácil manutenção, evitando, assim, a invasão de telhados; E de folhagem vincada, para que a periodicidade de renovação de folhas seja equilibrada e respeite as leis naturais.

Existem diversas espécies perfeitamente adaptadas á região Oeste, algumas são de “devastadora” beleza, de entre elas destaco: Flamboyant, Ipê, Pata de Vaca, Quaresmeira, Jacarandá de Minas, Sibipiruna, Resedá Rosa, Manacá da Serra, Chuva de Ouro, Rododendro, Wisteria, Faia Antártica, Bordo, Carvalho, Cerejeira, Flor-do-paraíso, Dragoeiro, Etc..

O Parque Dom Carlos I, nas Caldas da Rainha, no tempo de Rodrigo Berquó (1839-1896), possuía exemplares como esses, originários de diversos continentes. Infelizmente, o mesmo já não é modelo, pois a ação humana, nos últimos 80 anos vem paulatinamente a eliminar espécimes, devido, principalmente, à inexistência de uma equipa competente de jardineiros especializados.

A arborização urbana deve possuir um bom planeamento (indispensável para a relevância na redução de embates ambientais), para termos cidades mais sustentáveis. A criação de corredores, e ínsulas, verdes, seria uma excelente opção na redução das ilhas de calor, no fornecimento de sombras, na diminuição da possibilidade da existência de pragas, na ajuda aos insetos polinizadores, no equilíbrio psíquico do elemento humano.

Uma dica à classe política, para que não fique tão evidente o seu menosprezo pela natureza: Um concelho com arborização abundante, e bem cuidada, certamente trará vitórias eleitorais. Não significando despesa e sim investimento, principalmente na saúde daqueles que vão às urnas colocar o tão desejado voto.

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