Recentemente li num jornal
local uma carta-protesto escrita por uma “iluminada” - aquele tipo de ser que
polui o ambiente, não apenas pela sua presença, mas também pelo vómito de
“inteligência” que despeja por sobre os incautos leitores – nela, num espasmo
verborrágico, notei a presença de uma necessidade absurda de “conquistar
votos”, a princípio achei estranho, depois consegui perceber o que se passava:
A sumidade é candidata, pois está numa Lista concorrente à Câmara Municipal das
Caldas da Rainha. Estava explicado.
Depois da leitura em questão,
lembrei-me do “Princípio de Peter”, ou “Princípio da Incompetência de Peter”.
Esse texto, escrito pelo psicólogo e educador Laurence Johnston Peter (1919-1990),
em coautoria com o dramaturgo Raymond Hull (1919-1985), enunciado dentro da
Teoria Estruturalista, e publicado no ano de 1969, mostra-nos que a grande
maioria dos lugares de topo tendem a ser ocupados por incapazes. Como exemplo
temos: Adolf Hitler (1889-1945) e Jair Bolsonaro (1955-).
O cabeça-de-lista - enfeitiçado
pelas palavras aburguesadas, cheias de achaques de prima-dona, e plasmadas na
entoação certa – caiu no engodo de achar que a pessoa em questão é, realmente,
um achado, e uma mais-valia para a sua campanha, quiçá para a sua Lista. Erro
crasso.
Depois da eleição - se existisse
uma possibilidade de vitória - já com a responsabilidade de um cargo
autárquico, ocorreria, inevitavelmente, um afundanço, pois, devido à nata incompetência
da pseudopolítica, as águas serão cada vez mais fundas, as braçadas cada vez
mais frenéticas e, em menos de seis meses de mandato, a costa estará cada vez
mais longe, estando, a “nadadora”, em vias de afogamento. Quatro anos depois, em
2025, como consequência do voto dado a essa “iluminada”, todo o concelho
estaria asfixiado.
A política está a atravessar um
momento difícil, porém, muito pior ficará se dermos asas a ignaros. Uma grande
varredura torna-se necessária em todos os partidos e em movimentos que se
apresentam como independentes, supostamente sem ideologia.
A “alumiada” que merece esta
reprovação no meu “Escaparate” enquadra-se no “sempre fui de Esquerda, mas
detesto minorias e abomino pobres”.
O voto possui um peso
avassalador. Se não soubermos escolher os nossos candidatos, podemos cair na
asneira de colocar pequenos ditadores em cargos de monta, fragilizando, assim,
os órgãos autárquicos, piorando consideravelmente a vida das pessoas neste
concelho, e ajudando a destruir a Democracia.
Duas perguntas devem ser feitas
aos eleitores: 1) Existe um modo de conhecer, perfeitamente bem, um candidato,
antes de apostar nele? Infelizmente não. 2) Por causa disso, deixamo-nos levar
por quem possui uma boa conversa, um bom paleio, uma carta-protesto que mostra
um rosnar peripatético, repleto de chico-espertismo? Logicamente não.
Posso parecer agressivo, por
causa de um dislate que li num jornal caldense, mas não é agressividade, é
preocupação. O “Princípio de Peter” coloca uma boa luz sobre a burocracia,
ajusta pontos fulcrais para se chegar à Democracia, e faz um alerta, quase num
grito, que o perigo de se destruir uma sociedade é fácil quando a inépcia e a hipocrisia,
vestidas com a capa da virtude, mostram-se abundantes e assumem lugares de topo.
Tão importante quanto retirar os canalhas da política, é evitar que os dissimulados
alcancem lugares de topo.
O filósofo Mário Sérgio
Cortella (1954-) faz uma excelente reflexão sobre a incompetência ausente, e o
preparo limitado, citando, como desfecho, o fulgurante poeta espanhol António
Machado (1875-1939) que, numa simples frase, contextualiza tudo o que foi, por aquele,
citado, e, por consequência, o que aludi neste artigo: “Tirar a batuta de um
maestro é tão fácil quanto difícil é reger com ela a Quinta Sinfonia de
Beethoven”.
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