Recentemente, no Santuário do
Senhor Jesus da Pedra, em Óbidos, o Coro & Orquestra da Academia de Música
de Óbidos apresentou o espetáculo anunciado em epígrafe.
Do programa constou uma peça de
Joaquim Gonçalves dos Santos (1936-2008), Christus
factos est (moteto para coro a 4 vozes mistas e órgão), uma de Estevão de
Brito (1575?-1641), Stabat Mater (uma
configuração polifónica de dois versos, para quatro vozes, atribuída a esse autor,
porém, há certas dúvidas no que trata à sua verdadeira paternidade), além da Responsoria in Sabbato Sancto e dos Nocturnos, de autoria de José Joaquim
dos Santos (1747-1801?).
De Joaquim Gonçalves dos
Santos, sabemos que fez os cursos de Humanidades, Filosofia e Teologia no
Seminário de Braga, estudou composição com o Pe. Manuel Ferreira de Faria
(1916-1983), em 1962 ordenou-se sacerdote e em 1963 ingressou no Pontifício
Instituto de Música Sacra, em Roma, Itália, regressando a Portugal em 1968,
onde desenvolveu ativa produção musical, especialmente na Arquidiocese de
Braga. Foi, ainda, professor de Canto Gregoriano, Órgão, Piano e Polifonia, no
Seminário Conciliar de Braga, de Composição, História da Música, Piano e Órgão,
no Instituto Superior de Teologia da mesma cidade.
Estevão de Brito estudou
polifonia sacra com Filipe de Magalhães (1571-1652) no Colégio dos Moços do
Coro da Sé de Évora, sendo, anos depois, indigitado oficialmente Mestre de
Capela na Sé de Badajoz. Em 1613, foi designado para o cargo de Mestre de
Capela da Sé de Málaga, em 1618 foi-lhe sugerido o cargo de Mestre da Capela
Real de Madrid, tendo, porém, recusado a distinção. Por toda a vida permaneceu
em território espanhol, onde veio a falecer. Possui uma obra musical
consistente e respeitada, toda ela dedicada ao Sagrado. Porém, dentre o que se
conhece há duas peças que possuem uma capa de dúvida sobre a sua autoria.
José Joaquim dos Santos – que
desfrutou da felicidade de estudar com o Mestre da Real Capela Palatina de
Palermo, o compositor operístico David Perez (1711-1778), que ao tempo fazia
vida artística na corte de Dom José (1714-1777) – nascido na Vila de Óbidos,
teve toda a sua aprendizagem orientada através de conceitos sacro-italianos,
inseridos na música policoral veneziana, sendo esta uma das maiores expansões
de estilo, que levou consequentemente ao que hoje entendemos como género
Barroco.
Este, que é considerado um dos
mais importantes compositores setecentistas portugueses, teve muitos alunos
famosos, entre eles André da Silva Gomes (1752-1844) estabelecido em São Paulo
desde o ano de 1774, onde trabalhou como organista e Mestre de Capela da
Catedral, sendo ainda exímio compositor, latinista conceituado e alto
representante da Instrução Pública. As aulas de música que recebeu de José
Joaquim dos Santos ocorreram na sé Patriarcal de Lisboa na segunda metade de
1700.
Com o apoio incondicional do
Município de Óbidos, este concerto “Nocturnos” festejou os vinte anos da “1ª
Edição Moderna da Obra do compositor obidense José Joaquim dos Santos, um dos
maiores compositores da segunda metade do século XVIII em Portugal”.
A Academia de Música de Óbidos
dedica - através da sua excelência na Música Erudita - aos sentimentos humanos
da natureza do Sagrado e da Espiritualidade, desde há muito, uma extraordinária
atenção a uma preciosa escolha musical, como foi o caso deste repertório
apresentado pelo seu Coro & Orquestra.
Creio, até, que os responsáveis
por tão gratificante momento cultural possuem diante de si, em todos os dias de
árduo trabalho, o pensamento inspirador de Ludwig van Beethoven (1770-1827):
“Nada é suficientemente bom. Então, vamos fazer o que é certo, dedicar o melhor
de nossos esforços para atingir o inatingível, desenvolver ao máximo os dons
que Deus nos concedeu, e nunca parar de aprender”.
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