Sempre me causou uma certa
estranheza o facto de existirem tantos “treinadores de bancada”. Aqueles
indivíduos que “sabem tudo” e, por assim acreditarem, escondem-se atrás da tela
do computador e lançam venenos para todos os lados, porém, quando são
confrontados na rua, colocam a cabeça abaixo da linha da humilhação e seguem o
seu caminho, sem emitir um ligeiro pio.
Olhar na cara e dizer o que se
pensa não é para os fracos. Escrever crónicas e/ou artigos a apontar as
grotescas falhas dos ineficazes executivos camarários que nos calham na rifa
também não.
Os meus textos, comummente, são
motivo de debate, o que muito me satisfaz, pois afiança o meu lado de atento
analítico. Essas boas querelas ocorrem nos cafés, ou em outros locais onde
exista uma aglomeração de fiéis leitores desta minha coluna. O curioso é que a
larga maioria não utiliza a parte pública das redes sociais para mostrar o
agrado pelas ideias, desabafos e impaciências que lanço, fazem-no
discretamente, enviando-me mensagens privadas. Resguardam-se, pois sabem que
existe uma nova PIDE a observá-los.
Recentemente, devido ao meu
texto “Gestão nórdica”, a caixa de mensagens de uma dessas redes foi invadida
por um impressionante manancial de exteriorizações. Cerca de 95% favoráveis ao
que ali escrevi. Deixo os 5% restantes no patamar: “a mínima parte da população
que está satisfeita é porque ganha algo com a atual autarquia ou porque as suas
balizas são muito estreitas”. Quando cito aquela grande percentagem de
apoiadores, estou a referir-me (exaustivas contas feitas) a praticamente o
dobro de votos que o Partido Socialista recebeu nas Autárquicas de 2021. É
obra! O que muito agradeço.
As críticas possuem a intenção
de incentivar o executivo camarário a trabalhar (sem festarolas e bimbalhadas,
como gosta a vereadora da pouca Cultura). Servem, também, para pedir a esse
mesmo grupo autárquico que se defina politicamente. Assim, lanço aqui um repto:
já que demonstram ter pendão para a Extrema-Direita e adoram o Liberalismo do Século
XVIII, devem propor-se para militar no Chega ou na Iniciativa Liberal. Essas
forças políticas ainda não possuem condição de elaborar Listas para as próximas
eleições locais, portanto, basta que se sentem na mesa de negociação e acelerem
o processo comercial (pois é só de comércio que se trata), aceitando a melhor
oferta e concorrendo por uma legenda que lhes dê mais crédito do que aquela
associação que os ampara.
Vivemos na Era da
Superficialidade e nas Caldas da Rainha isso está mais do que evidente. O
executivo local adora posar para a fotografia; o palavreado que atiram ao ar
(em coxos eventos) possui míseros dez minutos de conteúdo; um documento que
lhes chegue às mãos com mais de duzentos caracteres é “um textão impossível de
ler”. Para piorar levantam bandeiras gastas, muito agarradas a conceitos
políticos existentes em épocas funestas (as comemorações do dia 25 de abril
são, para eles, um esforço descomunal). Como consequência, a temperatura começa
a subir, o feudo irá revoltar-se. O sorrir hipocritamente já não será
suficiente para acalmar as hostes.
Os “treinadores de bancada”
ofendem, porém não possuem poder para assinar papéis e prejudicar a população,
os maus políticos sim, esses são perigosos, pois trabalham na calada, com um
sorriso no canto da boca. O padre António Vieira (1608-1697) - que também não
perdia tempo com mesquinhezas - por compreender a diferença entre o tolo hostil
e o chico-esperto servil, assim o resume: “Mais afronta a mesura de um
adulador, que uma bofetada de um inimigo”.
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