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Falta de respeito

 


É amplamente visível que o atual executivo da Câmara Municipal das Caldas da Rainha está desesperado, e com muito medo de perder as autárquicas de 2025. Nas comemorações do Dia da Cidade mais um ato de intensa demagogia tomou conta dos ouvidos dos habitantes, nomeadamente dos doentes acamados (sobretudo dos idosos e das crianças, as mais afetadas são as que possuem uma Perturbação do Espectro do Autismo (PEA), entre outros Transtornos), que foram obrigados a suportar um inacreditável exemplo de desrespeito, através de um absurdo e interminável ruído, provindo de um extenso e inaceitável exibicionismo pirotécnico.

O respetivo executivo esqueceu-se de que vem exigindo que o atual Governo construa um novo e moderno hospital no seu concelho. Porém, sabendo que, esse mesmo nosocómio será a residência de muitos utentes, pergunto: todos os anos, na comemoração do Dia da Cidade, os autarcas irão agradar aos pacientes, com essa exibição despropositada e barulhenta? Desejam o hospital apenas por uma questão eleitoral (populista) ou para poder ser um benefício para a saúde dos que dele necessitarem?

Com a “política agrada-tolos” que se vem praticando, certamente ninguém está preocupado com o facto de que o fogo de artifício prejudica gravemente a saúde de todas as pessoas, num imenso raio de ação, pois causa uma excessiva poluição atmosférica, legando uma ábsona quantidade de partículas de metal, toxinas perniciosas e produtos químicos nefastos ao ambiente. A maioria dessas substâncias é tão ruinosa que nunca se decompõe, permanecendo na atmosfera e intoxicando tudo ao seu redor. Inevitavelmente, a população, sem o perceber, passa a ter problemas cardíacos, respiratórios e alta hipótese de ocorrência de acidente vascular cerebral. Além, portanto, do excessivo ruído, há a possibilidade de sermos brindados com algo ruinoso para a nossa saúde.

O atual executivo vem marchando contra todas as normas mundiais no que respeita à qualidade de vida noturna. Não é necessário ser-se muito inteligente, ou ter estudado no MIT, em Cambridge, Stanford, Oxford ou Harvard, para compreender que todos os tipos de fogo de artifício devem ser abolidos da face da Terra.

Não podemos esquecer que, infelizmente, os animais (domésticos, silvestres ou selvagens) são, também, muito afetados pelo ato demente da pirotecnia. O medo e a ansiedade ocasionados pelo excessivo ruído podem, de imediato, causar-lhes uma síncope cardíaca, uma exorbitante produção de adrenalina e o despoletar das hormonas de stress, provocando graves sintomas físicos e mentais.

As notícias que se leem semanalmente nos jornais, mostram-nos uma exagerada necessidade, por parte dos autarcas, em “mostrar serviço”, para que os possíveis votos futuros não fujam das mãos dos atuais membros do executivo caldense. É um fabricar de informação inútil, para encher páginas, que, no somatório final nada trará ao concelho, pois tudo está amparado pelo famoso panem et circenses (pão e circo), tão bem aplicado no Império Romano, especialmente por Tibério Graco (169/164 a. C.-133 a. C.), Caio Mário (157 a. C-86 a. C.), Júlio César (100 a. C.-44 a. C.) e César Augusto (63 a. C.-14 d. C.). A consequência é, inevitavelmente, o autoritarismo consentido e a dominação impercetível. O vínculo emocional entre as partes, povo (tratado como uma simples categoria abstrata) e autarquia, é mantido, apenas, por um cordão de demagogia. 

As comemorações em homenagem ao Dia da Cidade não necessitam desse exibicionismo tolo e caro. Até agora têm sido colocadas em prática diversas estratégias de condução político-ideológica muito próximas de ideais que favorecem o corporativismo e a colaboração de classes, os principais pilares da engenharia social no fascismo alemão, italiano e espanhol, praticados no século XX. Será assim até ao fim do mandato deste executivo camarário?

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