Estou sensibilizado por saber
que Caldas da Rainha possui uma associação cultural e recreativa que preza
muito pela prata da casa. É gratificante ver um punhado de nomes de artistas da
terra, que, graças à bem pensada grade de programação cultural do dito grémio,
conseguem apresentar-se ao público caldense.
Um público deveras exigente,
que vibra efusivamente ao ver os seus familiares naquele palco magnífico, coisa
que em outra localidade não é possível, pois, as suas “associações culturais e
recreativas” possuem agendas “repletas de nomes desconhecidos”, de que faz
parte um punhado de grupos de teatro, dança, música ou ballet, cujos
integrantes fazem da sua atividade, a sua profissão (os tais profissionais). Gente que até pode
elaborar uns workshops “porreiros”, onde um distraído consegue aprender algumas
coisinhas interessantes, mas, que, no fim das contas, pode ser muito
prejudicial pois irá embebedar os alunos de cultura e informação, duas
palermices, que empatam o bom caminhar do lugar-comum e da mesmice, campos onde
a infertilidade mental prolifera, resultando em carneiros inspirados, a votar cegamente
em qualquer candidato, aumentando os problemas sociais concelhios, distritais e
nacionais.
Creio que – inspirado pelo
plano apresentado em dez/onze anos de “profícuo” trabalho, exposto, num jornal
local, num singelo texto de meia dúzia de caracteres – seja possível assistir, nos
próximos anos, também, os nomes sonantes dos ranchos folclóricos da Murtigosa
ou da Reganheira Grande, afinal, será deveras interessante, para o crescimento
cultural do município das Caldas da Rainha ter a imponência das vestes
coloridas das duas coletividades a rodopiarem por um espaço público que vale
alguns milhões de Euros.
E eu que pensava que poderia
vir a assistir a um singelo teatro shakespeariano, ou um ballet de uma modesta
companhia russa ou francesa, quiçá um experimento à lá Pina Bausch (1940-2009),
quem sabe um obscurecido espetáculo vindo da Gulbenkian. Cheguei a sonhar com
protocolos com o D. Maria II, trazendo para Caldas da Rainha a Eurovisão da
Canção Filosófica; com o São Luiz Teatro Municipal, e a recatada prestação de Mónica Calle no seu “Este é o meu corpo: Rosa
Crucificação”; e com o Teatro Nacional São João, com “A vida vai engolir-vos”,
de Anton Tchekov. Bolas! Quem necessita destas tretas quando tem a bandinha do
amigo do peito tão à mão?
Quando um público não é
exigente, não se importa com o que acontece à sua volta, não se interessa pela
evolução cultural da sua região, não compreende que os seus filhos carecem de
exemplos de educação e cultura fortes para um crescimento intelectual intenso,
que permitirá que possam ser pessoas diferenciadas, quiçá, produtivas, todo um
concelho é obrigado a ingerir uma programação cultural de bairro, num espaço
público de referência nacional.
Quando possuímos um organismo
que poderia receber a fina flor da cultura portuguesa e, por que não,
internacional, limitamo-nos a degustar uma programação amadora (não tenho nada
contra este tipo de artista, porém, temos de analisar, cuidadosamente, o valor
do espaço em questão e quem o deve utilizar na maior parte do tempo. Deixando –
claro - determinados momentos do ano para a classe amadora o aproveitar. Parece
um pensamento elitista, mas, não é).
Caldas da Rainha não é
referência cultural nacional, de facto (só o é por propaganda paga nos veículos
de comunicação), porque não possui instituições culturais fortes, capacitadas
para rececionar o que de melhor se faz no país e no planeta.
Um outro pesar, da minha parte,
está relacionado com o facto da estrutura cultural em questão não permitir que
a vertente educacional exista, através de protocolos com o Conservatório de
Música das Caldas da Rainha, entre outros institutos, onde pudessem aflorar
cursos das mais diversas áreas artísticas, que poderiam ter como resultado a
criação de organismos vivos: banda sinfónica, orquestra de cordas, grupo de
teatro, corpo de ballet, etc. (estes sim, residentes naquele vigoroso edifício,
ou, dele se utilizando, a preços acessíveis, muito idêntico com o que ocorre
com outras estruturas culturais, que não possuem um edifício portentoso, com
equipamentos caríssimos, de última geração, como é o caso da Academia de Música
de Costa Cabral, da cidade do Porto, onde mantém a magnífica Banda Sinfónica
Portuguesa, e utiliza a Casa da Música para as suas apresentações).
A cultura deve ser um dos
pilares centrais de um concelho, senão caímos na estagnação, e passamos a ficar
satisfeitos com qualquer bandinha de bairro a apresentar um repertório muito ao
gosto (muitas vezes “pimba”) do profano que “abana a batuta”, e a população
cresce sem a noção do que de melhor se produz no país e no mundo.
Se não avançarmos com grandes
propostas culturais num recinto como aquele da “Associação Cultural e
Recreativa do Alto da Pororoca” caímos em erros grotescos, os mesmos que
levaram os Pavilhões do Parque D. Carlos I à ruína e a Igreja de N. S. do
Pópulo a para lá caminhar.
Encerrando: Poderia publicar
este artigo de opinião na minha coluna semanal num dos jornais caldenses,
com um alcance aproximado de 20 mil leitores locais, mas, não o fiz, pois não
quero desgastá-los com tal “apetecível direito de resposta à resposta”. Assim,
publico-o no meu blogue pessoal, onde modestas 175 mil pessoas têm acesso
diário. Criando, assim, uma sinergia fantástica com aqueles que pensam como eu,
e possuem, também, um amor profundo pela Cultura e pela Educação.
Bem hajam!
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